O PATRIMÓNIO DO CABO SUBMARINO DA ILHA DO FAIAL

 

Hoje (2015), podemos contar esta história iniciada na cidade da Horta, há muitos, muitos anos…

 

         Em 1969 terminou o processo de encerramento das companhias de Cabos Submarinos no Faial [1] , depois de, em Agosto de 1893, o navio inglês “Seine” ter lançado o primeiro cabo submarino na praia da Alagoa [2], freguesia da Conceição, ilha do Faial, vindo de Carcavelos e tocando em S. Miguel.

 

         Em 2009, precisamente 40 anos depois de ter fechado a última companhia na ilha do Faial, um grupo de Antigos Alunos/Antigos Cabografistas [3a] [3b] lançou um movimento destinado a recuperar a memória do tempo dos Cabos Submarinos. Houve evocações. Desabafos. E, sobretudo, desejos de futuro. Precisamente quando visitaram o armazém do Museu da Horta onde estavam esquecidas, há dezenas de anos, essas relíquias do tempo pioneiro da telegrafia submarina.

         Começou a “sonhar-se” com um museu, o Museu do Cabo Submarino, tendo começado a procura e identificação de espólios, bem como a mobilização da sociedade faialense [4a] [4b]. Realizou-se o primeiro debate público, o 1º Colóquio [5a] [5b], numa noite de Agosto, no Amor da Pátria. Organizado pela Associação com a Universidade Sénior da ilha do Faial. Estiveram mais de 100 pessoas. Com entusiasmo.

         Depois de Henrique Barreiros ter introduzido as grandes linhas orientadoras deste movimento, a desenvolver com o Museu da Horta, José Duarte Silveira e Carlos Silveira apresentaram comunicações sobre o valor histórico do tempo das Companhias do Cabo Submarino no Faial. Houve grande participação. E surgiram muitas propostas.

 

         Em 2010, este movimento ganhou expressão na diáspora e prosseguiram os trabalhos sobre os equipamentos e sobre a pesquisa documental. E, a Associação com a Comissão ad hoc de Antigos Cabografistas organizaram o Colóquio O Porto da Horta na História do Atlântico. O tempo dos Cabos Submarinos [6a] [6b] [6c] [6d] e a exposição A Horta dos Cabos Submarinos [7a] [7b] [7c] com o Museu da Horta.

         Desde o início deste movimento, os Antigos Cabografistas na diáspora foram informados de todas as iniciativas por José Duarte da Silveira.

         A importância dos Açores, em particular do Faial, nos primórdios da telegrafia submarina foi, também em 2010, reconhecida na exposição “Comunicar na República – 100 anos de Inovação e Tecnologia” [8] (Fundação Portuguesa das Comunicações, por ocasião do centenário da República Portuguesa) que deu especial destaque à Trinity House.

 

         Em 2011 foram inventariados mais espólios. A Associação, com o Museu da Horta, publicou as Actas do Colóquio [9] O Porto da Horta na História do Atlântico. O tempo dos Cabos Submarinos. E foi realizado o Colóquio - O tempo dos Cabos Submarinos: Pode o Faial recuperar o seu lugar na História das Telecomunicações Transatlânticas? [10]

         Foram estabelecidos contactos para a constituição de uma Rede Nacional e Internacional de lugares históricos dos Cabos Submarinos.

         A sociedade faialense foi convidada a associar-se [11] e (cor)respondeu.

         Na sessão de encerramento do Colóquio foi criado o Grupo dos Amigos da Horta dos Cabos Submarinos [12], cujos objectivos [13] se encontram na p.2 do Boletim nº 24 da Associação. Foi ainda aprovada a preparação de um documento de balanço [14] do percurso realizado e de uma proposta a ser presente ao Presidente do Governo Regional dos Açores, cuja redacção ficou atribuída a Henrique Barreiros e Martins Naia.

         Entretanto, depois da apresentação do projecto de Memorial no Hotel Fayal, em 2010, pelo Arq. Martins Naia, começava a ganhar consistência a junção de motivos para um espaço museológico. Cabem aqui os vitrais da Colónia Alemã [15], como um dos exemplos mais relevantes.

 

         No ano de 2012 realizaram-se diversas acções:

         . Em Janeiro, foi apresentado um ofício [16] ao Presidente do Governo Regional acompanhado pelo documento História das Comunicações. Musealização da Horta dos Cabos Submarinos [17], no qual se incluía uma proposta [18].

         . Em Junho, o Conselho do Governo classificou a Colónia Alemã como imóvel de interesse público [19].

         . O Grupo dos Amigos foi felicitado, por telegrama [20] em “cablecode”, enviado pelo Director do Museu Telegráfico de Porthcurno, Inglaterra, retomando uma ligação interrompida há 40 anos!

         . A Associação levou ao Faial a Exposição biográfica sobre Guglielmo Marconi [21] para assinalar o 90º aniversário da sua passagem pela ilha - 18 de Julho de 1922 - data em que a Câmara Municipal lhe atribuiu o título de Cidadão Honorário da cidade da Horta.

         . Em Julho, foi organizado novo Colóquio O tempo dos Cabos Submarinos na ilha do Faial. Valor Universal do património local [22]. Desta vez, evoluindo para orientações de natureza patrimonial e museológica. Na sessão de encerramento, a Secretária Regional da Educação, em representação do Presidente do Governo, anunciou a afectação, à AAALH, da Trinity House [23] para núcleo museológico do tempo do cabo submarino.

         . Em Setembro, a recepção de um ofício [24] da Presidência do Governo, confirmava a declaração pública da Senhora Secretária Regional da Educação no 4º Colóquio.

         . Na sequência da comunicação apresentada no Colóquio, a Associação propôs ao Governo Regional que o Engº John Ross procedesse à inventariação do estado dos equipamentos a cargo do Museu da Horta.

 

         O ano de 2013 foi especial. Houve desenvolvimentos e a evocação de uma data.

         . Em Março, o Grupo dos Amigos participou no Workshop internacional História e Património do Cabo Submarino [25] (Câmara Municipal de Cascais), coordenado pela Professora Ana Paula Silva, cuja principal conclusão foi a criação de um grupo internacional de investigação sobre os fundamentos para a classificação patrimonial das redes do cabo submarino – Research network on the history and the heritage of submarine cable [26]. Os primeiros trabalhos deste grupo foram publicados na Revista Italiana de História Económica, entre os quais um artigo sobre A Horta dos Cabos Submarinos, de Martins Naia.

         . Desde 2012 que o Grupo dos Amigos vinha preparando uma exposição, em colaboração com a ALRAA - Os Açores na História das Comunicações / O Património do Cabo Submarino na ilha do Faial. Em fase avançada de organização, esta exposição foi inviabilizada [27] , pelo Governo Regional.

         . Em 22 de Agosto, a Associação / o Grupo dos Amigos comemorou, na Horta, os 120 anos do lançamento do 1º cabo submarino no Faial. Com três momentos evocativos:

         - De manhã, no Terminal Marítimo situado junto à praia da Alagoa:

         . Leitura da Mensagem enviada pelo Município de Cascais [28] a felicitar a Horta pela comemoração dos 120 anos do 1º cabo com origem em Carcavelos.

         . Apresentação do projecto de um Memorial do Cabo Submarino [29] destinado a ser o ponto inicial do Roteiro do Cabo Submarino [30], ambos da autoria do Arq. Martins Naia, membro do Grupo dos Amigos. Estes projectos foram oferecidos ao Governo Regional dos Açores.

         . Lançamento, pelos CTT, de várias peças de memória filatélica - um inteiro postal [31], um selo e um carimbo [32] comemorativos desta efeméride.

         - À tarde teve lugar o 5º Colóquio subordinado ao tema A Horta dos Cabos Submarinos: Foi há 120 anos [33].

-  À noite realizou-se o tradicional jantar-convívio onde foram homenageados José Duarte da Silveira (CCC), John Ross (CW) e Carlos Silveira (WU), Antigos Cabografistas e ainda Yolanda Corsépius (DAT) [34]. Também em 2013, Vasco Cordeiro, Presidente do Governo Regional dos Açores, inscreveu no Livro de Honra uma nota de apreço [35], durante a visita que efectuou ao Património da Colónia Alemã, antiga Messe da DAT, na marquise agora recuperada, na qual se encontram os vitrais com elementos heráldicos do antigo Império alemão. Esta recuperação efectuada pela Secretaria Regional de Agricultura e Ambiente mereceu também a colaboração do Grupo dos Amigos.

 

O ano de 2014 começou com a publicação, em Diário da República, de uma Resolução, apontando a criação do espaço museológico da Horta dos Cabos Submarinos, mediante um conjunto de recomendações da ALRAA para o Governo Regional [36], nesse sentido.

         . Em Julho, o Governo Regional dos Açores, sob proposta da AAALH, classificou como património de interesse público o espólio tecnológico das companhias de Cabos Submarinos da Horta [37] , composto por 740 objectos.

         . Em Agosto, ao completarem-se cinco anos sobre o início do movimento lançado por um grupo de Antigos Alunos / Antigos Cabografistas, foi realizado um balanço [38]. Identificaram-se pontos fortes e fragilidades.

Principais marcas do percurso efectuado:

         . A importância histórica do tempo dos Cabos Submarinos (CS) foi resgatada do esquecimento,

         . Grande parte do património, especialmente tecnológico, está recuperado,

         . O património do Cabo Submarino na ilha do Faial foi reconhecido de interesse público,

         . O tempo dos Cabos Submarinos na ilha do Faial foi relançado, a nível nacional e internacional.

         . Grande parte da mobilização decorreu de iniciativas em regime de voluntariado, numa participação cívica da sociedade.

E ficaram dúvidas, questões que aguardam respostas [39]

         . O 6º Colóquio com o tema O Património do Cabo Submarino [40] pretendeu também assinalar os 90 anos do cabo submarino New York – Faial [41] (Western Union, 1924).

         . Em Setembro, a Assembleia Municipal da Horta aprovou um Voto de Recomendação [42]pela Criação do Espaço Museológico da Horta dos Cabos Submarinos, do qual fez ampla divulgação.

 

         Em 2015, as Casas de Amarração dos Cabos Submarinos [Porto Pim, Angústias] integram a lista do património classificado como imóvel de interesse público [43] (diploma de 4 de Fevereiro), as quais, desde 1984, fazem parte da lista de lugares, sítios, conjuntos e objectos classificados [44] da paisagem protegida do Monte da Guia. Sublinhamos que se trata de uma das estações de referência assinaladas no Roteiro Urbano sobre o tempo dos CS na Horta, apresentado no Colóquio de 2012 e projectado pelo Grupo dos Amigos.

         . Também em Fevereiro, o Presidente da Fundação Portuguesa das Comunicações (FPC), enquanto entidade organizadora da comemoração em Portugal dos 150 anos da União Internacional das Telecomunicações (UIT), convidou a Associação [45] para apoiar “a curadoria da exposição relativamente ao cabo telegráfico, em face da relevância da ilha do Faial na história Universal do CS e aos resultados no estudo e reabilitação do património, com destaque para a recuperação do acervo tecnológico dessa época”.

         O apoio tem vindo a ser desenvolvido com a participação do Grupo dos Amigos, em particular do Eng. John Ross, ficando a Exposição O cabo submarino num mar de conectividades [46a] [46b] [46c] patente ao público, na FPC, entre 19 de Maio de 2015 e 30 de Abril de 2016. Esta participação teve o apoio do Secretário Regional da Educação e Cultura do Governo dos Açores, em particular no que se refere à autorização para a cedência temporária de alguns equipamentos, à guarda do Museu da Horta.

         . Em Maio, o Governo Regional dos Açores classifica como imóvel de interesse público o edifício conhecido como Trinity House [47] .

         . As Actas do 6º Colóquio, realizado em Agosto de 2014, encontram-se no prelo.

 

CONVÍVIOS

 

Em cada ano, e para os Colóquios realizados, tem sido dada grande atenção a uma iniciativa de expressivo valor simbólico – o Convívio com Jantar [48] - no Hotel Fayal, local da antiga messe da Western Union [49] .

Estes momentos têm contribuído para que não se apaguem as memórias, reforçando os laços de amizade e de espírito solidário na evocação da Horta dos Cabos Submarinos. Há mesmo Antigos Cabografistas que se deslocam à Horta, vindos de várias partes do mundo, expressamente para esta “romagem de saudade”.

De sublinhar que em cada ano, a sala de jantar do Hotel Fayal é decorada por um grupo de Senhoras, Mulheres e Familiares de Antigos Cabografistas, num gesto singular de elegância e tradição.

 

 

Os Colóquios anteriormente referidos tiveram o suporte mais expressivo das seguintes entidades da área das comunicações: ANACOM, CTT, FUNDAÇÃO PT e FUNDAÇÃO PORTUGUESA DAS COMUNICAÇÕES.

 

De considerar, ainda, os APOIOS a nível local e regional, conforme citados nas Actas de cada Colóquio.